terça-feira, 24 de julho de 2012

Receita de leitura "Lágrimas do Dafur"

Composição
“Lágrimas do Darfur” é o relato verídico de Halima Bashir, uma criança feliz e despreocupada, nascida no seio de uma família abastada da tribo Zaghawa, cujo sonho era tornar-se médica, objetivo alcançado aos 24 anos. No exercício da profissão, viu-se embrenhada na experiência mais marcante da sua vida: o terror da guerra no Oeste do Sudão. A escola da aldeia onde trabalhava foi atacada, e as crianças, muitas excisadas tal como Halima, foram selvaticamente violadas e a médica impedida de ajudar o seu povo.
Este livro é mais do que uma história, é um relato de uma vida de horrores, de infortúnios, de abusos. É um salto para uma cultura bem diferente da nossa, onde impera o totalitarismo, o racismo e a discriminação, uma acumulação de consequências que faz lembrar uma bola de neve cada vez maior e mais incontrolável, onde se perde o sentido da dignidade, do respeito, até o significado de pessoa. É ainda um mergulho na realidade do que há de mais belo e mais nobre na pessoa humana, as duas dimensões dão-nos uma visão mais profunda e completa da realidade, despertando a nossa consciência cívica. A obra é um grito de alerta que visa evitar o esquecimento de um dos maiores dramas do século XXI.
Indicações
Este livro é indicado para quem se preocupa com causas cívicas: os direitos humanos, o amor ao próximo, a justiça, a (des)igualdade. Recomenda-se igualmente a quem goste de histórias verídicas intensas, perturbadoras, que dão conta de conflitos absurdos e conduzem o leitor a um crescimento consciente e responsável enquanto pessoa e cidadão de um mundocada vez mais global.

Precauções
A narração do conflito, na primeira pessoa, que, injustamente, envolve o seu povo, a sua família, o seu eu, constitui uma história empolgante, ainda que feita
de dor, desespero, desejo de morte e frustração. É por isso saudável partilhar a leitura.
Atenção! Em caso de angústia, tristeza, impotência, choro, sensibilidade, aconselha-se que reduza a leitura para 5 páginas por dia. Caso os sintomas persistam, não retome a leitura, partilhe o sofrimento com outros ou consulte um bibliotecário que lhe indique outra obra.

Posologia
É conveniente dedicar todos os dias um pouco de tempo à leitura, a toma pode ser de um capítulo diário. Dada a enorme intensidade de dor, desespero, frustração e revolta, pode ocorrer uma necessidade premente e compulsiva de ler e clamar ao mundo que não podemos permanecer indiferentes perante tamanho genocídio: campos semeados de mortos, crianças violadas, aldeias inteiras incendiadas... uma incompreensível barbárie no séc. XXI.

Nota:
Em leitores com problemas de baixa acuidade visual, não deve ultrapassar-se a leitura diária de seis páginas.

Outras indicações
Se gostou desta amostra poderá, igualmente, ler “Vendidas”, “ Divorciada aos 10 anos”, “Sultana ,a vida da princesa árabe” “Queimada viva”...

Dose de leitura
                A Sumiah fez uma pausa e o seu rosto ensombrou-se ao reviver tudo aquilo (...)
- Os Janjaweed traziam armas, facas, paus pesados... que usavam para bater nos cavalos. Quando uma rapariga tentava resistir, batiam-lhe com esses paus...
                Olhou para mim. – Gritavam e berravam connosco. Sabe o que diziam? “Estamos aqui para as matar! Para acabar com vocês todas! Escravas negras! São piores que cães! Ou  as matamos ou fazemos-lhes filhos árabes. Depois deixa de haver escravos negros neste país. Mas sabe o pior? O pior era que se riam e guinchavam de alegria, enquanto se entregavam aqueles atos horríveis”. Homens a divertir-se passando as raparigas de uns para os outros..
“Na confusão, uma ou duas raparigas conseguiram escapar. Correram para casa e deram o alarme mas quando os pais se precipitaram para a escola, deram com ela cercada por um cordão de soldados do governo que não deixavam ninguém entrar. Os soldados atiravam sobre quem ousasse aproximar-se os pais ouviam as filhas aos gritos, mas não tinham maneira de lhes acudir.
Tomaram a escola durante horas (...) as raparigas que tentassem resistir eram agredidas (...).”
- Antes de se irem embora, cuspiram-nos e urinaram em cima de nós – murmurou Sumiha. – Disseram:” Vamos deixá-las com vida para poderem contar aos vossos pais e irmãos o que lhes fizemos. Digam-lhes da nossa parte: se ficarem, há de acontecer a todos o mesmo e pior ainda. Da próxima vez, não teremos contemplações. Saiam desta terra. O Sudão é para os Árabes. Não é para cães e escravos negros.”
Fiquei no centro de saúde até altas horas da noite,  obcecada por pensamentos medonhos.

Excerto de Lágrimas do Darfur de Halima Bashir e Damien Lewis
Filipa Falcão, 11.º A

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